Occultus Ars Tenebrae

O Occultus Ars Tenebrae foi fundado em 08/12/2016 E.V. com o intuito de disseminar as Artes Sinistras musicais, literárias e filosóficas.






Entrevista com a lendária entidade HECATE




Em seus 24 anos de trajetória a grandiosa horda HECATE vem forjando seu nome no cenário  do Metal Negro nacional se tornando uma das maiores bandas de música extrema e obscura de nossas terras. Entretanto a grande entidade Hecate ainda há muito a ser desvelada sob as hostes de seus leais devotos.




OAT – Gostaria de saudar e agradecer a soror Pagan Priestess por nos conceder a gratificação desta entrevista. Já fazem alguns anos desde que o último trabalho do HECATE foi lançado na forma do EP V.I.T.R.I.O.L em 2014. Existe um novo trabalho sendo manifestado e há alguma previsão de quando será anunciado?
Gostaria que comentasse sobre a nova formação!

Pagan Priestess – Salve Frater Abraxas! É uma satisfação responder estas questões, principalmente por saber que meu interlocutor é uma pessoa de bastante conhecimento e espiritualidade. Espero, portanto, conseguir desvelar os véus ao nosso redor que incitam dúvidas e questionamentos.
Agradeço suas palavras acima em torno de nossa horda. São 24 anos ininterruptos que completamos em 2019, forjados com muita vontade no enfrentamento dos obstáculos e dificuldades que surgem nestes caminhos. Toda esta luta e devoção materializaram-se em alguns trabalhos e o EP  V.I.T.R.I.O.L. foi realmente o último lançado. Para um futuro breve existem três materiais que são a tape do V.I.T.R.I.O.L que já está em produção em fábrica europeia com previsão de lançamento para agosto próximo, o Split com a horda de Pagan Metal Iron Woods – material este já gravado e que está com uma pendência apenas na capa -    esperamos que seja lançado até o fim deste ano e o lançamento do Odes ao Oculto em vinil duplo, provavelmente para o fim deste ano ou primeiro semestre de 2020. Todos esses materiais sairão pela Fimbulvinter Productions numa parceria que também materializou no passado o Odes em Oculto em tape. Além destes, há pelo menos uns três materiais planejados, cujo destaque maior seria o segundo full Length, que já está com bastante atraso na nossa avaliação, mas cujo caminho sofreu  percalços relacionados a troca de formação, shows, problemas de saúde de membros da horda, além certamente da questão financeira que sempre dificulta a consolidação de uma obra deste porte. De toda forma, a inspiração e criação são constantes em nossa horda e esperamos trazer a superfície muitos hinos novos que já estão sendo executados há um certo tempo no cotidiano de nossos ensaios.
Em relação a nossa formação atual, ela apresenta mudanças, na verdade uma mudança e um retorno. Estamos com novo Baixista, o Vocyferus Spectrum. Sua história para adentrar na horda foi bem curiosa.  Ele foi nosso baterista nas apresentações da horda no ano passado, no Putridvx Vox em Natal -RN e na apresentação em Salvador – BA. O antigo baixista tinha saído faltando poucos meses para estas apresentações e não encontramos baixista compatível, preferimos então colocar um baterista confiável  e o nosso batera Daymon foi temporariamente para o Baixo. Concluída essa fase de shows, o Vocyferus se dispôs a tocar o baixo na horda, o que vem fazendo muito bem em nossos ensaios. O retorno que mencionei se refere a tecladista Adamantheus, presente em trabalhos como Odes ao Oculto e Triunfal Aliança. - pessoa de bastante conhecimento do Oculto e espiritualidade que só vem a acrescentar em nossa horda. Nada é por acaso então seu retorno, na minha visão, faz parte e condiz com  nossa senda percorrida atualmente.






OAT – E quanto a carteira de shows, estão com planos para tocar pelo Brasil a fora? Se sim quais lugares especificamente pretendem tocar? Eu sendo paulista não posso deixar de enfatizar SP.

Pagan Priestess – Normalmente não fazemos planejamentos quanto às celebrações ao vivo. Tudo tem acontecido, ao longo dos anos, de forma bastante natural. Somos uma horda que na verdade pouco se apresenta ao vivo e temos optado sempre pela seletividade quando isso ocorre. Apesar das poucas apresentações, é de nosso interesse celebrar nossos ritos em lugares onde ainda não tocamos, como algumas capitais do Nordeste, o Sul, o Norte de nosso País e certamente fora do Brasil. Mas atualmente temos recusado algumas propostas devido nosso foco estar voltado para gravações de materiais inéditos. Temos uma rotina de ensaio semanal, mas temos que utilizar esses momentos para optar entre tocar composições novas ou antigas. Sendo assim ou ensaiamos para gravar ou para nos apresentar ao vivo. E pretendemos gravar atualmente, por isso acreditamos que este ano não tocaremos ao vivo. Quanto a SP, temos especial satisfação em celebrar em terras paulistas, pois nas vezes que isso ocorreu sentimos uma intensa troca de energias, algo sempre memorável!! A última vez foi em 2016 celebrando com Wodanaz (SP), Iron Woods  (SP) e o Kawir (Gre). Esperamos retornar tão logo seja um momento propício!!


OAT – Em meio à estas inovações nas quais estão desenvolvendo, ao longo da trajetória da horda tem ocorrido mudanças que afetam as inspirações de HECATE no presente momento que não haviam nos últimos trabalhos?.

Pagan Priestess – Do ponto de vista musical eu vejo que nossa horda tem evoluído dentro da proposta inicial apresentada na demo “ Sob o Signo da Magia”. Sempre utilizamos, por exemplo, teclados, vocais narrativos e agora estamos adicionando alguns vocais mais líricos em algumas faixas novas e notadamente em intros que apresentamos ao vivo, mantendo a agressividade sonora e a mística da horda. Quanto aos aspectos conceituais, creio que o desenvolvimento de algumas temáticas não antes exploradas faz parte também da proposta de Hecate desde o princípio; não à toa nosso primeiro álbum se intitulou “ Odes ao Oculto” (2003), pois ali se encontraram temas diversos relacionados ao paganismo, ao satanismo, à magia...  A horda nunca se propôs a explorar uma única linha conceitual em sua lírica.  Assim o EP V.I.T.R.I.O.L (2014) adentrou em temas alquímicos, relacionados a transformação, Morte e Renascimento, etc. Isso certamente como reflexo de vivências em nosso círculo interno que se traduziram daquela forma. Eu acredito, portanto, que nossos trabalhos expressam o momento e o contexto nos quais foram concebidos e criados; nenhum será igual ao outro, no sentido de parecerem uma continuação, pois elementos não antes explorados ou apresentados podem estar presentes, porém nossa horda tem uma de fidelidade para consigo no sentido do estilo musical, da proposta sonora que posso chamar de identidade, algo que conseguimos forjar ao longo do tempo. Nossas inspirações sempre ocorrem de acordo também com nosso momento existencial, espiritual e cada vez que adentramos mais em nossa escuridão interna, aprendemos, intuímos um pouco desse universo escuro que permeia a matéria. Então o presente para nós significa consolidar mais ainda a identidade que nos é característica e continuarmos nos aprofundando em nossa busca espiritual interior, um processo individual que se reflete em nosso grupo e é expressado através de nossas composições.


OAT – Apesar da HECATE ser considerada por muitos uma horda nacional de respeito  e de longa data dentro do cenário underground no modo geral, percebo que os temas líricos que envolvem a horda são pouco abordados, questionados ou se quer notados por muitos que a conhecem restando apenas o entendedor que possui alguma afinidade com os mistérios arcanos.
Com o crescimento da popularidade de seus aliados o C.H.P.V (Círculo Hermétiko Pvtridvs Vox) antes difundido mais entre a região do nordeste mas que atualmente está obtendo conhecimento em nível nacional e até mesmo ganhando terreno mundial, como procede essa aliança entre a HECATE e o C.H.P.V um manifesto que tem se mostrado muito forte em seu foco em disseminação das forças espirituais abissais fora de do contexto meramente musical e que renega abertamente todo e qualquer cenário fora da postura explicitamente ocultista?

Pagan Priestess – Realmente quando somos questionados sobre nossos temas líricos em entrevistas frequentemente é mais a título de informação, sem maiores aprofundamentos. De forma geral, é provável que os mesmos não sejam compreendidos de forma mais atenta por uma grande maioria, mas é muito interessante quando alguém os percebe sob prismas pessoais, não necessariamente devido a afinidades com estudos sobre o ocultismo. Alguns já fizeram leituras individuais das letras e de alguma forma absorveram a mensagem contida. Certamente não é a mesma leitura que alguém que já possui afinidade com o Oculto faz, mas o que quero dizer que quando uma música tem realmente a capacidade e poder de transmitir sentimentos e percepções ela os vai transmitir de alguma forma, vai potencializar o tema lírico que a acompanha e isso ao meu ver já é mágico, já faz parte dos mistérios da música e de sua capacidade de chegar nas esferas sutis ou densas de nosso espírito.
Sobre o C.H.P.V, nós vimos o nascer deste manifesto e o apoiamos desde sua fase inicial exatamente por conta do mesmo se voltar para a importância da espiritualidade dentro do Metal Negro. Como você disse somos uma horda antiga e em tempos hoje de bandas como Batushka e similares exporem velas e altares, mantos e máscaras dentre outros no palco para se diferenciarem como hordas mais espiritualistas, nós já colocávamos nosso altar no palco em meados dos fins dos anos 90 para começo de 2000. Desde nossa primeira celebração colocávamos intros no palco e ritualizávamos em nossa apresentação e o fazemos até hoje. Então o  foco do C.H.P.V voltado para a espiritualidade, encontrou total ressonância para conosco e acredito que devido nossa conhecida postura e expressão diante a espiritualidade negra a recíproca foi também lógica e natural; assim na primeira evocação do círculo, em 2014, na cidade de Campina Grande, fizemos parte do cast, o que  se repetiu na última evocação em 2018, na cidade de Natal. Portanto a aliança entre HECATE e C.H.P.V data dos primórdios deste último: Somos uma horda do círculo, mantendo nosso apoio ao mesmo e nossas idiossincrasias. E percebo com total relevância o fortalecimento dessa essência espiritual negra entre todos que compõem e apoiam o círculo.  Se cada vez mais pessoas sérias se voltarem para estes estudos e práticas, mais e mais as celebrações vão expressar toda a densidade das Egrégoras das esferas densas cada vez mais fortalecidas e presentes.


OAT – Bom, foi uma grande satisfação e uma honra ter feito esta nossa entrevista e fico muito contente com as exposições feitas pela soror, estamos vivenciando um marco na propagação gnóstica da alquimia interior pelo defrontar das Escuras cavernas do interior, essa sabedoria será muito bem vinda para aqueles que possuem os olhos do Entendimento.
Gostaria de dar alguma declaração final?

Pagan Priestess – Sim, caro Frater, foi uma imensa honra também compartilhar pensamentos e ideias em torno de nossa horda e sobre questões relevantes que nos cercam, Apreciei por demais as perguntas e agradeço a oportunidade, pelo espaço e a paciência, pela espera das respostas. Acredito também que vivenciamos um período diferenciado onde aflora uma busca e expressão mais forte de uma espiritualidade alquímica, onde diversas correntes se mostram, diversos caminhos escuros se abrem para aqueles com avidez em adentrar dentro de si mesmos. Espero que todos que estejam nessa busca de forma séria aproveitem esse momento. Penso que cada um de nós deve conseguir identificar o que realmente lhe inspira e lhe impele a praticar.  São vários os caminhos, são muitos os conhecimentos e tudo está longe de apontar para uma verdade única que abarque a diversidade dos seres humanos. Mas somente com o autoconhecimento cada um pode discernir entre o que lhe serve ou não. Entre o que será letra teórica estéril ou verdadeiro aprendizado para si.  Então, estamos todos nessa busca, nessa lida e na caverna escura que busco dentro de si, onde a escuridão prevalece encobrindo sombras e dores, espero encontrar as tochas hecatinas que iluminam e apontam caminhos, mesmo que estes escondam abismos e pedras. Ave Hecate!!!